1.o Distrito, Tribunal Criminal do Porto.
Processo de Querela contra Doutor Vicente Urbino de Freitas, Médico e Professor de Toxicologia da Escola Médico-Cirúrgica do Porto.
Processo instaurado por requerimento do Mº Pº e de José António de Sampaio pelo crime de homicídio por envenenamento. Conhecido também como “crime da Rua das Flores” ou “crime de envenenamento da família Sampaio”, o libelo acusatório dizia que este era parente afim em 3º grau da vítima e que cometeu o crime com premeditação, em execução de um plano e extermínio dos diferentes membros da família dos seus sogros para se apossar de toda a sua fortuna. Condenado a prisão (10 anos) seguida de degredo (30 anos). Foi deportado para o Brasil, proibido de exercer medicina.
Processo instaurado em 23 de Abril de 1890 por crime de homicídio com envenenamento, cometido na pessoa do menor Mário Guilherme Augusto Sampaio por Vicente Urbino de Freitas, médico e professor da Escola Médica do Porto. Este nasceu, nesta cidade, em 1849 e foi lente de Fisiologia na Escola Médico-Cirúrgica desta cidade, chegando a produzir notáveis trabalhos sobre a lepra. Foi condenado, com intervenção do júri, em pena maior e degredo. A Relação do Porto, por acórdão de 3 de fevereiro de 1894 fixou a pena em nove anos de prisão maior celular, seguida de degredo por 20 anos com prisão por dois anos no lugar do degredo, ou, em alternativa, na pena de degredo por trinta anos por prisão por 10 anos no lugar do degredo.
Na Rua das Flores viveu o rico comerciante de linhos José António Sampaio casado com Maria Carolina Bastos Sampaio. Tiveram três filhos: Guilherme, José e Maria das Dores. Em 1877, a Maria das Dores casou com o talentoso médico. O cunhado Guilherme morreu pouco depois do respetivo casamento, deixando os filhos Mário Guilherme e Maria Augusta. A mulher do José também faleceu precocemente, deixando a filha Berta Fernanda, que passou a viver com os primos Mário e Maria Augusta em casa dos avós. O cunhado José dera em boémio e, amantizado com uma inglesa, veio até ao Porto, instalando-se no Hotel Paris, na Rua da Fábrica. Teve a infelicidade de se sentir doente e a ideia fatal de mandar chamar o prestigiado cunhado. Este, que já magicara nas hipóteses de vir a ser proveitoso herdeiro do sogro, terá começado a vislumbrar formas de eliminar concorrentes à herança.
Certo é que o padecente, após o tratamento ministrado, morreu com horríveis sofrimentos típicos da ingestão de veneno. Passados meses, apareceu uma misteriosa encomenda em casa dos sogros do Urbino, contendo amêndoas e precisamente três bolos, tantas quantas as crianças da casa. As crianças comeram os bolos e a avó teve a curiosidade de os provar, achando-lhes sabor algo esquisito. Todos se sentiram mal. Foi logo chamado naturalmente o médico da casa. O Urbino receitou às crianças clisteres, recomendando-lhes que fizessem uma retenção tão longa quanto possível. As meninas, porém, logo evacuarem. O Mário, mais crescido e controlado, conseguiu fazer maior retenção, logo sofrendo espasmos horríveis à semelhança do falecido tio José, acabando por sucumbir.
O processo longo, cheio de incidente e muito volumoso, acabou em julgamento. Em plena audiência a sogra acusou-o: - Juro aqui, diante de Deus e dos homens, que foi este homem que matou o meu filho José e o meu neto Mário! Foi este homem, a quem eu dei um conto de reis para ir ao estrangeiro, onde foi aprender os venenos para matar a minha família!